Washington Olivetto, em entrevista à revista Exame em 2003, disse que a W/Brasil devia fazer sempre o melhor, mais rápido e a um custo menor sem, para isso, fazer economias tolas ou extorquir fornecedores.
Não menos sábio, numa negociação, me disse um cliente: ” Não pechinchamos com nossos parceiros, não queremos levar vantagem. Não se rouba o suor de ninguém.”
É realmente de se lamentar que muitas empresas e até agências de propaganda enxerguem nosso trabalho como mera commodite, sujeita a pregões e definições de valor meramente pela oferta.
Nada contra o “pechinchar”. Acho lícito. Mas há que se perceber o limite do respeito entre as partes, suas necessidades e sua capacidade de conhecer o valor de um trabalho e de seus benefícios. Negociar é humano, e até na frieza do acerto de valores para uma prestação de serviços objetiva, carrega a psicológica e vitalizante sensação de vitória ao conquistador de alguns “porcentos” de abatimento. Só que existe a necessidade de se manter a satisfação mútua, como na metodologia do ganha-ganha de Ronald Shapiro, e nunca o achaque de uma parte sobre a necessidade da outra, nunca o sequestro do trabalho ou a chantagem sobre ele. Há que se lembrar que num trabalho, sobremaneira aqueles que exigem de soluções não padrão, soluções com criatividade e iniciativa intelectual, como design, arquitetura, fotografia, propaganda e etc, o envolvimento e o entusiasmo têm peso enorme no resultado.
Mas há um pensamento tacanho que entende como parte do jogo extorquir diante da grande oferta. E não nos adianta muito argumentar que no final a qualidade de um profissional será o fiel da balança. Não é bem assim! Há, claro, situações abençoadas onde o binômio qualidade-atendimento é determinante e mais influente do que o preço. Mas é uma situação que beira a exceção no rala-e-rola da rotina de um fotógrafo mortal.
Clientes, em sua maioria não distinguem sutilezas técnicas e estéticas. Percebem que algo, um nãoseioquê, não parece bom, ou algo que lhe agrada demais sem lhe ser evidente, quando a comparação é entre níveis significativamente diferentes de trabalho. E ainda assim, isso não significará que não vão optar pelo mais barato. Pois para eles é muito distante a associação desse diferencial com suas vendas. Para quem tem que apresentar resultados rápidos, importa um número rápido: O preço!
Educar o mercado? Sonho! Isso não existe! Entrar no jogo e mandar um monte de princípios a merda para vencer sempre? Bom, se você se sujeita a isso você deveria experimentar uma profissão mais lucrativa. Pois não gosta do que faz quem o faz de forma a torná-lo lucrativo a qualquer custo. Inclusive o custo de fazer bem feito. E por mais que você se arreganhe para o mercado, aviso, você só vai sofrer. Vai transformar uma atividade prazerosa em burocrática rotina. E vai continuar ganhando mal.
E como mudar um mercado? Quantos de nós não fazem o mesmo quando o assunto é “equipe”? Quantos de nós não exploram assistentes com o argumento vergonhoso de que está ensinando? Quantos damos o exemplo?
Há que se compreender que ninguém pode investir uma grana tamanha pra ficar olhando pra um telefone que não toca. Há que se compreender que todos temos nossas contas pra pagar e não dá pra estar sempre deixando o trabalho escapar para as mãos de outro profissional, digamos, “mais flexível”. Isso são as leis do mercado. As mais elementares. Mas é importante ter em mente que pagar o aluguel deste mês, cedendo ao trabalho barato, provavelmente vai comprometer as férias do próximo ano.
Solução? Você está lendo até aqui esperando que eu sugira alguma solução? Infelizmente não há. As pessoas não vão se unir para mudar um mercado. Perguntem para o pessoal do mercado de design gráfico! Perguntem para os músicos! Muitas profissões já passaram pelo processo que o fotógrafo vem passando na última década. E o que vai acontecer é que cada um vai agir conforme a sua necessidade, a sua consciência e a sua posição no mercado. Discurso vamos ouvir muitos. Mas ali, na sala fechada onde a onça bebe água, muitos vão ceder à extorsões. Estamos numa fase de transformação. E, é de acordo com a postura de cada um que vamos ter a consolidação do mercado futuro. A minha postura? Sou o jocosamente e injustamente conhecido como fotógrafo de final de semana. Parece que brinco de ser fotógrafo, mas a verdade é que trabalho mais de 70 horas por semana para tocar duas profissões, sacrificando lazer, convívio familiar e descanso por amor à fotografia. E essa condição, ao contrário do que muitos dizem, me permite cobrar um preço justo e não ceder a achaques. Se um cliente que não entende o valor real de um bom trabalho não estiver disposto a aceitar o preço que cobro, que considero justo na ponta do lápis, ele não me interessa. Não vou deixar de honrar meus compromissos por recusar participar de leilões. Tenho lá de onde tirar outros caraminguás. Posso me dar a esse “luxo”. E espero que isso construa uma rede de bons parceiros, que sabem o valor do resultado de trabalhar com gente adequadamente remunerada.
Da minha parte, quero uma relação de amor e confiança, tanto com quem me contrata quanto com quem eu contrato. O segredo do bom trabalho é ter todos os lados satisfeitos. O trabalho é antes de tudo uma relação entre as partes. Então que seja uma boa relação para fazermos o melhor, o mais rápido e ao custo mais justo. Deixarei o sequestro e a extorsão pra quem compra fotografia como compra um saco de milho.
P.S.: O que as fotos que ilustram o post têm a ver com o assunto? Tudo, oras!